você tinha uma arma

eu não esperava te ver sorrindo. algo dentro de mim ainda gostaria que o seu mundo tivesse parado de girar depois que eu fui embora, depois que você me largou num canto chorando deslizando na parede até tocar o chão, eu me odeio tanto, tanto, e ainda assim consegui deixar viva dentro de mim uma parte que jurava que você ia se arrepender por ter me deixado, que iria perceber que essa não tinha sido a escolha certa, que você tinha trocado o nosso amor por um monte de incertezas ao ir foder com aquele moço que você conheceu um dia numa festa durante o nosso relacionamento.

eu esperava, de alguma forma, te ver triste. não é possível, eu pensava, não é possível que eu tenha que sofrer tanto e que você tenha que seguir em frente como se não tivesse doído nada em você. como se tivéssemos sido nada. onde foi que você aprendeu a ser tão indiferente? me diz, porque eu quero aprender também. me diz quem foi que te ensinou, o que foi que eu fiz pra merecer a sua indiferença. a sua indiferença me queimou por dentro e eu senti como se bebesse um ácido que derretesse meus órgãos. mas não havia ácido algum, era só a sua indiferença. a sua ausência e a sua indiferença, dois copos difíceis de engolir.

e ainda assim, eu não esperava te ver sorrindo. não é justo.

não é justo comigo.

quando terminamos, você ficou feliz, não foi? nunca colocou nesses termos, mas era o que você sentia. você brigou comigo e me chamou de egoísta por não me sentir feliz por você, por você ter encontrado outra pessoa. e talvez seja de fato hora de admitir que você fez eu me sentir tão pequeno que é inadmissível pra mim que você não sinta nem um pouco de remorso. eu queria de fato vê-lo estampado no seu rosto. sim, eu queria te ver sofrendo, mas não é porque te desejo o mal. é só porque eu preciso que você sinta alguma coisa pra que eu não me sinta tão insignificante.

e o que mais me dói é que isso tudo era tão previsível. e mesmo diante de todos os sinais, eu escolhi confiar em você. eu acreditei quando você dizia que me amava. eu acreditei todas as vezes, mesmo que sentisse uma pontada abaixo do estômago me dizendo que tinha alguma coisa errada.

a sua indiferença era uma arma apontada para o meu rosto. era um conflito, o nosso conflito, porque eu sentia a arma tocando a minha pele. e ainda assim eu duvidava da existência dela. você tem uma arma, você dizia que não, querido, mas eu sei que tem uma arma aí, não tem, você tem que acreditar em mim, por favor, se você atirar, como eu estou suposto a viver, eu amo você, não tem arma, também amo você. amo você. eu amei tanto você. e ainda te amo. mas você atirou.

e eu ainda não sei como estou suposto a viver com essa frustração. como que estou suposto a viver sem você.

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