nossa relação de mentirinha (ou a vida que não vamos viver juntos)

alguém novo vai chegar na sua vida e viver tudo que você não pôde me oferecer enquanto ainda estávamos juntos. imagino que finalmente tendo assumido a sua sexualidade para o seu pai, você possa finalmente desenvolver um senso de lar em sua própria casa. você vai poder, finalmente, amar e se amar sem medo. ser quem se é, e nada além disso.

o seu novo alguém vai poder conhecer o seu pai e viverá a vida que eu nunca pude viver. vocês passarão noites juntos e você não precisará voltar antes das seis da manhã, antes que seu pai acorde. poderá dormir até mais tarde, em um sono tranquilo com a pessoa que você escolheu para chamar de amor. seu pai irá chamá-la para jantar e você se orgulhará de estar ao lado dela nas redes sociais, o que nunca aconteceu comigo. você não terá vergonha de ser visto com ela. o seu novo alguém vai poder conhecer você como eu nunca pude: completamente entregue à relação, ao afeto. sem nenhum medo de ser feliz.

nós não tínhamos como dar certo, é verdade. eu vivi um relacionamento que quando acabou não deixou vestígios. não havia fotos, presentes e para ser sincero também não havia tantos momentos assim. parece que nós desaparecemos do mapa. foi como se nunca tivéssemos existido. e quando você recomeçar, vai ser efetivamente como se nunca tivéssemos existido. você nunca mais vai se lembrar da nossa relação de mentirinha.

quanto a mim? eu vou ficar observando de longe como seria isso, essa vida que eu nunca vivi. essa vida que foi tomada de mim. tomada? nunca me foi nem oferecida. eu vou assistir à sua felicidade, meu bem. espectador do seu sucesso e sujeito do meu fracasso. é o que me resta.

Comentários

Postagens mais visitadas