como os anos passaram e me envelheceram


aos onze anos eu parei de sorrir
porque percebi que meus pais jamais gostariam de mim
como eu era

aos doze eu pensava em fugir
porque não queria decepcioná-los

aos treze eu percebi que talvez meus pais
se jamais me aceitariam
então não me amavam tanto assim
e minha vó disse a eles
que eu os traria uma grande decepção

aos catorze eu tive ódio dos meus pais
porque eu não me sentia amado

aos quinze eu não amava mais meus pais
e ainda aos quinze
eu senti o que era ser iludido
quando a primeira pessoa que amei
me trocou pela minha melhor amiga
como se nunca tivesse me amado
(e de fato nunca me amou)

aos dezesseis eu me perguntava
se eu era de fato
tão indigno do amor assim
e também perdi meu melhor amigo

aos dezessete eu só estudei pro vestibular
na esperança de que me mudar
me fizesse mais feliz

aos dezoito eu trouxe a grande decepção aos meus pais
que me lembraram como minha vó tinha visto

tanta decepção em mim
assim como eles estavam vendo agora
aos dezoito também percebi que havia me enganado
quando novamente amei sem ser amado

aos dezoito e meio
eu achei que seria amado
e fui estuprado

aos dezenove eu me desencantei
com a faculdade

e por tudo que ela me prometia
mas não cumpriu
pois eu continuava
não me sentindo
amado

aos dezenove e meio
eu achei que era amado
mas me enganei
como os tolos se enganam
porque eles sempre têm esperança

e agora quase aos vinte
eu sinto revolta pelo estado das coisas

e confesso que às vezes penso
em morrer
porque pelo menos
a morte é uma mudança
e assim não me sinto condenado
a viver
sempre tudo tão igual
sem conseguir sair do lugar

pelo menos se eu morro
não estou ficando pra trás
eu só morri

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