um (velho) começo

o ano novo já chegou, mas tem cara de velho. é porque eu sou velho, eu tenho sempre os mesmos problemas batidos, reciclados, reutilizados. às vezes, acho que não aprendo nunca, mas também não sei como deixar de ser eu. se eu soubesse, talvez deixasse de cair nos mesmos velhos ciclos. mas a verdade é que eu não sei.

mesmo que só por um instante, eu quero me dar o direito de agir como uma criança mimada. quero reclamar dizendo que o ano novo não me trouxe nada, como se isso fosse responsabilidade dele. quero acreditar que há algo neste universo que tem o dever de não se mostrar tão indiferente assim com relação a mim, mas parece não haver ninguém nem nada a que se agarrar. 

eu poderia falar do concurso em que não fiquei bem colocado o suficiente pra ser chamado. poderia falar sobre não ser chamado pra corrigir o vestibular, e sobre as obrigações do mestrado que já começaram. eu poderia falar dos meus amigos, que não têm sido as pessoas mais presentes, e também sobre não saber como fica minha vida financeira este ano. poderia falar que minha dieta não tem dado certo e queria reclamar sobre como tudo está tão diferente do que eu gostaria, mas de todas as pequenas lutas e derrotas, as que mais me doem têm a ver com você.

acho que depositei em você a ideia de recomeço. naturalmente, estendi isso ao ano novo, achando que ele cumpriria minhas expectativas de bom grado. 21 anos e tão inocente. achei que finalmente eu teria uma chance de recomeçar de novo. um novo amor. uma nova chance. uma nova pessoa pra descobrir, e eu estava tão feliz com isso. eu realmente quis me envolver, e quis construir, mas querer nunca é suficiente em se tratando de amor. parece que eu ainda não aprendi.

eu só queria ser uma dessas pessoas que chegam em casa felizes porque estiveram beijando o cara que elas gostam, e porque elas têm certeza que o interesse afetivo é recíproco. eu queria ser uma dessas pessoas que encontra o amor aos catorze anos e vive um romance adolescente de cinema, e não experimenta numa fase tão complicada da vida a sensação de que nunca vai ser amado. eu queria ser a pessoa que os homens chamam pra conversar, e que eles morrem de vontade de conhecer. eu queria ser a pessoa com um namoro estabilizado de tanto tempo e um amor que já floresceu tanto. eu queria ser uma pessoa com um amor. e o que me deixa mais triste é que não tem havido um dia em que não invejo minhas amigas porque todas elas conhecem o amor e todas são abençoadas por ele.

eu só não queria ser a pessoa que ouve pela décima quinta vez que está sendo precipitado e que ainda é cedo para um interesse afetivo. e parece que novamente sou essa pessoa, que não consegue deixar de sentir. queria desligar meus sentimentos, como eles fazem pra conseguir serem tão frios? eu nunca aprendi, eu não sei fazer isso. 

eu aceitaria de bom grado todas as minhas derrotas e fracassos se eu pudesse ter você na minha vida. se eu pudesse... se você sentisse... se você me desejasse e me amasse. eu só não sei lidar com tanta derrota e incerteza ao mesmo tempo. não sei lidar com a sensação de rejeição, e que eu errei em querer você tanto assim, mas é o que eu faço, me desculpa, eu ainda não sei amar, mas eu queria estar com você e esse texto é ridículo, só começou porque queria reclamar desse ano novo que não me trouxe nada de novo e me apresenta uma perspectiva de vida pautada na frieza, na solidão e no fracasso. o texto era pra falar disso, mas eu terminei falando sobre você, e como me entristeço com essas experiências vazias de afeto que são só o que eu vivo há tanto tempo.

Comentários

Postagens mais visitadas