sobre o amor e felicidade dos outros

uma amiga minha, depois de muito tempo brigando feio com a namorada, a ponto de elas chegarem à beira do término, finalmente conseguiu se resolver com ela e colocar o relacionamento de volta aos trilhos. e eu, como amigo que muito a aconselhou até que a paz fosse restabelecida, deveria me sentir feliz. não deveria? mas não me sinto. não me sinto feliz por minha própria amiga. a que nível de miséria pode se chegar alguém, a ponto de não desejar o bem para quem ama?

quando foi que quebraram o meu coração tão para além do recuperável que eu perdi a sensibilidade e capacidade de ficar feliz pelos outros? quando foi que fiquei tão vazio a ponto de torcer pelo fracasso alheio para que eu não me sentisse tão mal assim?

onde foi que tudo deu errado comigo?

me perdoe por esses pensamentos, minha amiga. saiba que eu sempre te desejei todo o bem e ainda quero isso pra você, eu só tenho dificuldade de lidar com o meu próprio fracasso, e sou inseguro a ponto de me sentir ameaçado pelas vidas que encontraram o amor. eu não encontrei. eu não sei o que é isso. não estou familiarizado. não sei o cheiro, a sensação, o toque. só sei que ele, o amor, não me quer, e sei disso há muito tempo, há muito tempo me sinto assim. e vocês têm esse relacionamento lindo, que começou tão conturbado à mesma altura do meu último relacionamento, mas eu e meu ex já acabamos e vocês continuam firmes. resistindo. e quer saber? isso me mata por dentro. nos últimos dias, vocês duas pareciam eu e ele perto do nosso fim, falando em línguas diferentes, sem conseguir se comunicar. parecia que eu estava assistindo a um filme cujo final eu já sabia, mas vocês encontraram uma maneira de resolver. vocês duas estavam dispostas a tentar... meu ex não. 

assistir a dinâmica da relação de vocês me lembra muito de quando eu estava com ele. pude visualizar direitinho ele largado num sofá, mexendo no celular e enrolando pra tirar os sapatos. suas coxas grossas à mostra porque ele usava um short curto e sentava com as pernas arqueadas. e eu achava lindo. preparava leite pra ele toda noite em que ele estava lá em casa e comprava aquelas balas gelatinosas porque sabia que ele gostava. busquei construir nosso relacionamento como um lar para onde ele pudesse voltar depois de um dia cansativo, refugiar-se depois de um dia ruim, conversar depois de um dia feliz. sei que nem sempre foi assim, mas eu realmente tentei, e conseguimos por algum tempo. quando ele ainda se esforçava e o peso do relacionamento não caía somente sobre os meus ombros. quando eu ainda o reconhecia e ele não era um estranho pra mim. quando ele ainda não estava cego. 

é estranho como o tempo leva tudo que é nosso, apenas para descobrirmos que nada nunca foi nosso.  eu descobri que estava enganado. que eu não tinha um amor pra chamar de meu. que mais uma vez, eu tinha sido enganado.

então me desculpe se não consigo ficar feliz por você, amiga. não tem a ver com você. só tem a ver comigo. com a minha pequenez. com as minhas frustrações. com o meu vazio. mais nada.

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