Saldo da luta

já voltei. acabei de matar uma família de aranhas que fazia do meu quarto a casa delas e agora sento em uma cadeira para escrever como se nada tivesse acontecido e eu tivesse acabado de contar a elas sobre o tempo. pobre família de aranhas. não gosto de matar nenhum bichinho, mesmo os que eu não gosto, mas fiquei pensando na possibilidade de elas encararem a sobrevivência delas e a aparente indiferença da minha parte como um ei, aqui é um lugar legal, vamos nos reproduzir e construir a nossa vida nesse local. o receio por uma família de aranhas se reproduzindo no único lugar desse mundo em que me sinto confortável falou mais alto do que qualquer amor pelos animais.

eu me senti na obrigação de escrever esse texto. não por causa das aranhas, elas foram só um pensamento avulso, o que quero realmente dizer não tem nada a ver com elas. é que apesar de tudo que vem acontecendo e aconteceu nos últimos meses, momentos de total ausência de controle, esperança e sanidade, momentos em que nenhuma opção além do fim me parecia confortável, depois de todos esses demônios que venho enfrentando, eu precisava vir aqui reconhecer o quanto melhorei desde o último semestre, o quanto melhorei desde aqueles dias em que eu não tinha energia suficiente pra sair da cama e me alimentar, em que me cuidar parecia besteira e eu não estava morrendo de amores pela ideia de ainda ter uma vida toda a se viver. não digo que esqueci e que é passado, ainda falta muito pra isso acontecer, algumas coisas eu nunca vou esquecer completamente, as marcas de um estupro nunca somem, as de um abandono emocionalmente são invisíveis, o medo da irresponsabilidade afetiva é um monstro pairando sobre as minhas relações e eu ainda amo você perdidamente, você que não pode me oferecer esse sentimento tão genuíno, mas eu sei que estou melhor. sei que tenho um futuro. sei que existe algo reservado pra mim, embora eu não saiba o quê e tenha plena consciência de que provavelmente é totalmente diferente do que eu quero e do que eu gostaria que fosse. espero saber encontrar a felicidade, espero saber continuar crescendo. espero me recuperar o suficiente para seguir em frente, pois é o que eu preciso.

e eu sei que você não lê isso, e que bom que não, pois sairia correndo na direção oposta se soubesse o que escrevo. então eu sei que é bobeira ainda direcionar meus textos a você. não que algum dia isso tenha feito sentido. o meu único obstáculo em te esquecer é que, infelizmente, amo você mais do que amo a mim próprio. você é o único exemplo vivo desse fenômeno pra mim. abdicaria quase qualquer coisa por você e hesitaria diante de muita negociação maluca se fosse você quem estivesse no horizonte do negócio. gosto mais de você do que de mim e por isso você me dá mais trabalho do que qualquer outro. porque eu sei quem você é e pelo que você passou. e sei que conheço você e que você me conhece também. e eu sei de tudo isso, e também da impossibilidade do nosso caso. pensando bem, escrevo direcionando pra você, mas na verdade é pra mim. acho que eu precisava me dizer tudo isso.

eu devia a mim mesmo uma explicação.

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