Eu suplico

eu digo pras mudanças: venham. digo com aparente calma e tranquilidade, mas no fundo estou quase implorando, venham senão não sei o que será de mim. começou com uma vontade estranha de pintar o cabelo de alguma cor também estranha, aliás, os meus cabelos cacheados me enjoaram e eu quero alisá-los porque não os acho mais bonitos, eu comecei um tratamento contra meus cravos que não estavam incomodando ninguém e pela primeira vez na vida cuidei da minha sobrancelha. ele está se cuidando, alguém poderia dizer. que ótimo isso, essa tentativa de destruir meu old self conseguir se disfarçar de vaidade, a prova maior de que finjo bem, que ninguém percebe que esse eu que está andando por aí é uma fraude, um impostor, uma versão temporária até que a nova fique pronta.

tenho tido essa vontade incontrolável de romper com tudo o que eu considerava meu. acho que uma viagem cairia bem, uma viagem pra um lugar bem distante e sem ninguém, onde eu não tivesse qualquer identidade e fosse só mais um rosto pras pessoas que passam. quero romper tanto comigo mesmo, quero o fim desse relacionamento que não vai mais pra frente, um relacionamento fadado ao fim, não existe mais diálogo, só existe o silêncio, só existe a dor que se arrasta e perdura, diminuindo a velocidade dos segundos, nem eu me aguento mais, NÃO QUERO MAIS TER QUE OLHAR PRO MEU ROSTO, eu não quero me reconhecer no espelho, eu não quero ter ideia alguma DO ROSTO QUE EU VEJO, porque aí eu tenho motivo pra não me reconhecer, aí sim vai ser concreto, pinta o cabelo, faz a sobrancelha, uns hormônios pra fazer crescer a barba, usa óculos, muda o estilo, perca ou ganhe peso, nasça de novo, troque de pele, nasça de novo, mude de gênero, nasça de novo, mude de país, fuja desse inferno, vai pra outro planeta se puder, MAS VAI PRA BEM LONGE, mata você mesmo, SE MATA se puder, mate o suficiente pra ninguém te reconhecer, mas não tenha dó, não tenha qualquer vestígio de dó da parte sua que precisa conhecer o fim.

eu preciso matar quem eu fui pra voltar a viver. eu preciso matar quem eu sou pra voltar a me orgulhar de mim e lembrar que eu sou digno do amor. eu preciso me matar de alguma forma pra poder voltar a me achar bonito, desejável ou merecedor de alguma coisa. não sei como fazer isso, então me distraio com problemas fúteis, me distraio com uma cor nova de cabelo como se fosse mudar alguma coisa, vou me distraindo enquanto um carro por acidente não bate no meu corpo e não me faz esse favor.

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