O que a noite me deu

Algo essa noite me inspira a escrever, não sei bem definir ou nomear o que é. Algo nessa noite me incomoda e me alivia, me incomoda porque eu olho para a noite e não vejo nada, ela é escura e nublada, ela não traz o que quero, não pode me dar respostas, hoje a noite é uma senhora intragável e imponente, diante de mim, que sou impotente.

Mas o que me alivia é que sei que há um futuro. Se tudo der errado, sei que ao menos eu tenho a faísca desse amor e a juventude e sei que não é o fim — certamente haverá um fim, mas não agora. Ainda consigo vislumbrar um futuro, você me ajuda nisso, me ajuda a imaginar, eu consigo me ver com você em momentos bons e ruins, me vejo estando ao seu lado em todos eles e quero estar ao seu lado em todos eles, sem exceção. 

A noite é fria e nebulosa, mas eu ainda tenho um futuro. Sei que um dia ela será asfixiante, pois mesmo enquanto escrevo o futuro se encurta à minha frente. Haverá de chegar o dia em que, além-noite, não enxergarei nada além do preto. Não haverá nada além dela, a noite será o limite, curta e próxima. Não haverá nem o futuro para me consolar, esse serzinho que a gente não conhece, mas é inevitável, enchemos a boca para falar dele.

Enquanto vejo a noite, sou tomado pelo súbito e incontrolável desejo de me perder nela. Estou em casa querendo derrubar todas as paredes. Não quero estar em casa protegido, quero estar na noite perigosa e passar tanto tempo junto dela que vou me fundir a ela, ninguém poderá me diferenciar do céu nublado, vou ser o tempo e o ar que se respira, eu vou ser o limite e o vir-a-ser, aquele que anuncia que já é hora de relaxar, já chega de tanto trabalho, agora você pode ser você depois de tudo.

Depois de tudo, por que é que eu sigo tentando depois de tudo? Seria tão mais fácil se a noite simplesmente me levasse.

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