Derrota

quando você se foi, eu deixei a porta aberta e a luz acesa. estava escuro e fiquei pensando que você poderia querer voltar. se você quisesse voltar, então você me encontraria aqui, sentado e te esperando como se fosse só mais um dia e você na verdade nunca tivesse partido. você encontraria tudo em ordem, do jeitinho que deixou. eu ia sorrir pra você e te acolher de volta, como se tivesse esperado por esse momento a vida toda.

mas no fundo eu sabia. no fundo eu sabia que seria em vão, não queria confrontar a realidade, mas se olhasse direitinho pros meus gestos, pras minhas atitudes, eu saberia que eu sempre soube que você jamais voltaria. é que eu fiquei um tempo sem regar as plantas. algum outro tempo sem arrumar a cama quando levantava dela. as minhas refeições eram pratos requentados. eu sabia que você não voltaria e que não adiantaria esperar de banho tomado. estava escrito na minha derrota de todas as manhãs, mas eu, que estudava letras, não sabia ler.

mas lá fora a luz queimou e não há mais volta. e nessa escuridão ninguém sabe me encontrar. é derrota.

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