A réplica que eu sonhei última

I'll face my demons - yeah, I paid my dues
I had to grow up; I wish you could too
I wanted to save you
But I can only save myself
(trecho da minha música favorita
da sua cantora favorita)

eu li o que você escreveu. eu tenho esse hábito feio, eu fuço sem que você saiba, mas só porque eu sou mal resolvido com isso e talvez eu seja uma criatura digna de pena. consegui visualizar direitinho essa imagem sua que você projetou, olhando pra tela vazia do celular à noite, sentindo a presença da solidão e desejando ter alguém pra conversar de madrugada, alguém que te entendesse. eu preciso parar de ler o que você escreve, preciso parar de querer saber das suas fraquezas. cada fraqueza sua que você expõe num texto como uma ferida faz com que eu goste ainda mais de você. quanto mais profunda a ferida e a coragem, mais perdidamente apaixonado eu fico. mas nós somos fracos, meu bem, por trás desta fina carapaça de escritores reveladores da alma somos criaturas medrosas fugindo de nós mesmos, nos vemos todos os dias e fazemos pose um para o outro, quando nos vemos somos fortes, decididos e seguros de nós mesmos, a nossa voz não fraqueja e não treme, mas nossas inseguranças e mágoas são um nó na garganta. quando nos vemos somos fortes, então vamos para casa e deitamos em nossas camas e afundamos a cabeça no travesseiro para que ninguém nos veja chorar e publicamos textos em nossos blogs sobre como somos miseráveis e carentes, você é igualzinho a mim. você é igualzinho a mim um pouco demais para dar certo. eu lembro de quando reclamava que você era muito fechado e não se abria pra mim, mas qual foi a última vez que eu me abri diante de você? cara a cara, pele a pele, olho no olho, nunca fiz isso. nossas conversas são rasas, supérfluas e desinteressantes, mas as mensagens que um dia trocamos são tão pessoais que acho que nunca conseguiria me revelar dessa maneira pra alguém novamente, jamais. depois, voltamos para nossos blogs e falamos sobre nossas tristezas. eu não posso exigir nada de você porque no dia a dia eu também sou inabalável. desconfio que ainda mais que você. isso não é uma coisa boa. só significa que sou ainda mais resistente e distante de quem eu sou e de demonstrar o que eu realmente sinto. você deve ter uma vaga ideia de quantas cicatrizes eu carrego e só, eu ergui a manga da blusa e abaixei de novo logo depois porque tinha vergonha das minhas cicatrizes. 

mas eu não vou me arriscar de cabeça de novo. não com você. já fiz isso outra vez, tentei pegar na sua mão, sabia que você estava presente, mesmo que estivesse escuro. foi estranho não conseguir te alcançar. acendi a luz e meus medos tinham se concretizado: você tinha ido embora. eu fui deixado no escuro e você não é mais uma prioridade. você não é mais uma prioridade. você conseguiu ser a coisa mais linda que me aconteceu e, justamente por isso, foi também uma grande decepção. eu vou parar de te fuçar e procurar as suas fraquezas, vou parar de tentar te des(cobrir) e te revelar. e por sei lá mais quanto tempo, seremos apenas dois meninos tristes que escrevem para um blog e vão pra faculdade com uma excelente maquiagem. à noite, afogamos a maquiagem no travesseiro olhando pra tela vazia do celular, sem ninguém pra conversar.

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