estes poemas, este poeta

estes poemas já foram
lindos de morrer
quando versavam sobre amor,
identidade
estes poemas já foram engajados
com a sociedade
e já versaram sobre as galáxias,
sobre navios que ancoram
num porto seguro

(mas também já versaram
sobre a nossa solidão no universo
e sobre navios que afundam e não voltam mais
à superfície)

estes poemas já foram premiados
quando a minha poesia era como uma
música suave ao fim da noite
e eu ainda utilizava
as maiúsculas

estes poemas já foram coloridos
estes poemas já tiveram sonoridade
mas meus poemas agora são só uma sombra
do que já foram
não sei quando foi que eles
se esvaziaram assim
mas deve ter algo a ver com este poeta
que se esvaziou da alegria
como um balão que já perdeu todo o gás
e se aproxima do fim

que culpa tenho eu?
se não posso escrever
sobre o que não sinto?
eu não consigo sair de mim
e da minha dor,
que me é tão presente

(quase esqueço de mencionar
que estes poemas também já foram presentes carinhosos
para os garotos que eu amei
mas todos eles já se foram:
os garotos, os poemas
e os carinhos também)

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