em que estrada me perdi?

olha, algumas coisas já não fazem mais sentido. me pergunto se estou entrando naquilo que as pessoas chamam de crise dos 20? ou talvez não haja crise nenhuma, apenas a minha cabeça inventando coisas e criando paranoias como se não tivesse mais no que pensar? olha, algumas coisas já não fazem mais sentido. escrever. escrever faz sentido? eu escrevo pra quê? e pra quem? pra mim. por quê? porque senão eu morro sufocado de angústia. minha vida é uma angústia, olha, eu nem tenho uma vida tão ruim assim, tenho privilégios que muitos como eu não têm, mas eu acho a minha vida uma angústia. eu acho a minha vida um vazio tremendo. estudar. estudar faz sentido? tenho que tirar meu diploma. pra quê? e pra quem? pra mim. ora, vou ter que viver de alguma coisa, talvez dando aula. por quê? porque é uma das poucas coisas que sei fazer e que julgo fazer bem. então eu estudo. mas estudar não parece ter sentido. estamos todos aqui, né? publicando artigos, fazendo trabalhos que ninguém nunca vai ler, protegidos do mundo lá fora, bem aqui, onde as coisas não acontecem. escrevemos sobre coisas que fingimos saber e fingimos concordar com coisas que talvez não concordemos tanto assim, mas a gente tem que concordar se quer chegar em algum lugar. chegar em algum lugar. pra quê? e pra quem? pra mim. ter um nome na Academia, ser reconhecido pelas coisas que escrevo fingindo saber do que estou falando, assim como fazem todos? criar relações artificiais pra ter a quem pedir bibliografia? criar relações efêmeras e momentâneas, guiadas pela necessidade de se chegar a algum lugar. e quando se chega, não há mais relação alguma. ter relações. pra quê? e pra quem? se ninguém tem interesse em manter um vínculo, um laço e uma amizade? se estão todos tão preocupados se o artigo está sendo publicado numa revista reconhecida internacionalmente? se estão todos preocupados com... com o quê exatamente? e pra que amar se podemos apenas fazer sexo e satisfazer nossos desejos humanos mais imediatos? ninguém precisa de amor no mundo real.

algumas coisas já não fazem mais sentido e eu não faço mais sentido. quero estar aqui? e por que estou aqui? e até quando quero estar aqui? até o mestrado? mais dois anos em um lugar onde não pertenço? mas a que lugar pertenço? a casa dos meus pais? a um país desconhecido? onde encontrar um sentimento chamado lar? em que esquina encontro a felicidade? em qual estrada é seguro eu abandonar a minha culpa e o meu arrependimento? e como é possível que alguém viva em meio a tanta miséria de espírito e pior, como é possível que eu ainda queira alguém com quem compartilhar essa miséria? pra ser um pouquinho mais miserável do que eu já sou? pra me sentir um pouco menor do que me sinto? somos adultos, né? é melhor não pensar muito a partir de agora. é melhor apenas... ir. e claro, fingir que sabemos aonde estamos indo. isto é fundamental.

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