Chuva de novembro

O trânsito estava congestionado, nada funcionava naquele dia.

Para piorar, ameaçava chover. Desde de manhãzinha ameaçava chover, mas agora parecia sério. Eu não tinha guarda-chuva e acho que essa era apenas uma das tantas más notícias daquele dia.

O jeito era ir a pé para casa, novamente, mais uma das tantas más notícias. Mas dizem que emagrece. Certo, emagrece. Vou arriscar.

Foi só eu arriscar a caminhada que a chuva começou, em pouquíssimo tempo eu estava todo molhado.

Passei por uma praça onde encontrei uma senhora com carinha de sol dando de comer aos pombos. Ela percebeu o meu desespero e me ofereceu sua sombrinha. Moro aqui perto, disse ela. É bom saber que ainda tem alma boa nesse mundo.

Aceitei a sombrinha, mas aquilo não durou muito. Era sombrinha de feirinha, a chuva apertou de um jeito que nem um guarda-sol me salvava.

Eu já nem enxergava mais. Só sei que em algum momento esbarrei com uma criança e ela parecia triste, amargurada. Dei a sombrinha pra ela, pois no mundo dela chovia pouco e logo por lá o dia ficaria ensolarado.

Esbarrei com outras pessoas: chuvosas, nubladas, ensolaradas, ventadas.

E eu sofrendo para enxergar, caminhando porque diziam que emagrecia, porque sempre me disseram que coisas boas esperam aqueles que se esforçam.

Mas eu queria que a chuva não fosse tão apertada. Aliás, queria que chovesse algodão-doce, morangos, hambúrgueres, mas não que chovesse decepções.

Comentários

Postagens mais visitadas