Acerca da homossexualidade

Nunca curti os churrascos em família. A primeira razão é porque sou chato. A segunda razão é porque os encontros também são chatos, ao menos pra mim, um chato.

Então, primeiro de janeiro e lá estava eu me aventurando naquela tarde em um churrasco em família, com a sensação de que quem estava fritando era eu e não a carne, tamanho o calor. Foi quando a minha atenção foi atraída pela inconfundível frase fulana saiu do armário.

Minha cabeça girou na direção da conversa e passou a captar seus estímulos. Um homem (não me obriguem a lembrar que é da família) disse: "Eu não aceito que as pessoas sejam gays. Eu não aceito, nada vai me obrigar. Pra mim é errado e não há novela que me obrigue a aceitar isso."

Pensei em todas as formas de sair da escuridão do meu cantinho e retrucar, mas deixei apenas que sua frase flutuasse na minha mente por algum tempo antes que eu me despedisse de todos com educação e voltasse para o sossego da minha casa. Já em casa, me senti incomodado. Oh não, primeiro de janeiro e eu já estou me sentindo incomodado. O que te incomoda, Matheus?

Olha, várias coisas me incomodam. Me incomoda que as pessoas sejam egocêntricas o suficiente a ponto de acharem que elas têm que aceitar ou não a escolha que alguém faz para a própria vida (com escolha, me refiro a ser verdadeiro consigo mesmo). É como se eu estivesse caminhando pela rua e encontrasse alguém usando uma bota amarela, então dissesse: "Eu não aceito que as pessoas usem botas amarelas. Não vou aceitar, nem que usem na novela."

Se eu não gosto de bota amarela, não vou usar bota amarela. Agora, quem sou eu para dizer que os outros não podem usar bota amarela porque não curto usar bota amarela?

É uma comparação simplista, a situação é bem mais grave.

Inevitavelmente, lembrei de uma ocasião semelhante. Eu estava na igreja com meus pais (só o corpo mesmo, a cabeça estava em outro lugar) quando a minha atenção foi atraída pelo padre engrossando a voz.

Ele lembrava a situação da França, que estava às vésperas de legalizar o casamento gay: "Temos que fazer como os franceses que estão lá, lutando contra a desmoralização da família. A união entre homossexuais não pode ser permitida, é um pecado contra Deus. Não podemos discriminar, claro, mas precisamos nos posicionar diante disso. Ir às ruas nos mostrar contra, chega de ficar parado, na comodidade".

Ele falava da homossexualidade como se fosse uma ameaça para o bem estar da humanidade. E eu tentei imaginar aquelas pessoas que sofriam para sustentar a própria família, trabalhando todos os dias (alguns em fins de semana) para comprar o próprio alimento (inflação nas alturas), pagar IPTU, IPVA, o caralho à quarta somado a impostos. Com o governo passando a mão no bolso delas com a desculpa da inconveniente da Copa do Mundo, com tanta coisa errada acontecendo nesse mundo, tantos valores indo pro buraco, é justo fazer uma propaganda contra a união entre pessoas do mesmo sexo?

Sei como que fica complexo agora, pois chegamos na religião. Penso eu que a religião deveria expandir horizontes e não fazer o contrário, o pior é saber que as pessoas se submetem a certos absurdos.

Eu me submeto. Eu escuto e fico quieto, só que não me aguento. Tô aqui nesse blog, compartilhando minhas experiências. Céus, é cada coisa que sou obrigado a ouvir. Será que isso é só comigo?

Menos discurso de ódio, intolerância, ignorância. Vamos elevar o amor, pois ele está em falta. É o mínimo, o mínimo.

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