eu preciso acreditar nas estrelas (mesmo que estejam mortas há milhões de anos)

eu espero que as cartas estejam certas e haja algo me esperando no fim desse ano, algo de verdade, um sentimento de verdade. tomara que a bruxa tenha realmente sentido que alguma coisa me transformaria e que não tenha sido apenas uma leitura do que eu precisava ouvir, captada no semblante cansado deste jovem adulto cansado, rejeitado e com medo da solidão. espero que haja amor, espero que haja sentido. eu não aguento mais sentir dor e ter medo do futuro.

eu não quero passar pelo martírio da existência sozinho. essa existência dói muito, me machuca todos os dias. eu estou ferido e surpreso estaria se eu não estivesse. não há nada de glorioso sobre estar vivo, mas também não há glória na morte. nós não somos nada e o mundo é tão profundamente indiferente.

eu não quero passar pelo martírio da existência sozinho. eu quero saber que existe alguém ao meu lado que pode me dar a mão. pelo menos enquanto estamos aqui. pelo menos enquanto existimos.

eu espero tanto que aquela bruxa esteja certa, porque eu preciso muito de algo real. estou farto de viver nas minhas ideias e nos meus medos. tenho insônia de irrealidade. tenho medo de viver em um mundo onde nada faça sentido, mas também acho que estou nele. tenho receio de que tudo irá escapar das minhas mãos em uma fração de segundo. eu olho para as estrelas e busco nelas algum respaldo, mas só há silêncio. elas estão mortas há milhões de anos e eu ainda me engano de que não estamos sozinhos. estamos profundamente sozinhos. ridiculamente sozinhos. constitutivamente sozinhos. as estrelas já não são reais, mas esse mundo nos engana.

nem as estrelas são reais, mas eu tento me convencer a acreditar naquela bruxa. se as cartas estiverem certas, eu ao menos tenho um mísero respaldo e pelo menos vou ter alguém com quem dar as mãos. mas isso se a bruxa estiver certa, e preciso acreditar nela. o dia em que nada mais for real e eu não puder mais acreditar, saberei que já estou morto.