ainda é cedo pra ir embora (ou como não vamos conversar sobre isso)

você está indo embora e nós não vamos conversar sobre isso. quase não sinto tua partida, pois depois de tanto tempo, parece que já estou mais que habituado a elas. talvez até entediado com elas. quando conheço alguém, conto os dias no calendário até que eu conheça mais uma dessas partidas. sempre sei que elas não demoram. sei que ninguém vem pra ficar.

à noite, na área externa da casa, a ventania é implacável. me assusto com a maneira como sua inclemência agita as janelas, sacode as árvores e silva como um fantasma nos meus ouvidos. me assusto, mas sei que estou protegido. a ventania me agride por rajadas e depois ela cessa, espalha folhas pelo quintal e traz sujeita pra dentro de casa. os ventos também partem, como o sol e as tempestades. mas todos eles retornam um dia, isso não é praticamente certo? eu queria que você fosse como o tempo, meu bem. quero estar protegido de você e da sua inconstância, porque sei que você vai me machucar quando for embora, mas eu gostaria de saber que você vai voltar. gostaria que as partidas não fossem definitivas e teria me encantado ainda mais por você se ficasse na minha vida.

existe um motivo para eu não abrir as janelas. pretendo continuar assim. mas, de quando em quando, me entristeço com a proteção. queria estar na noite perambulando com você. me arriscando com você. compartilhando um pedaço da minha vida com você. mas não vale a pena, eu sei que não. você já está partindo. você está indo embora e não vamos conversar sobre isso.

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