só um rascunho

foi ontem que recebi a notícia de que eu e você nunca deixaríamos de ser um rascunho mal feito, de contornos garranchosos porque você sempre esbarrava a mão no meu traçado e dizia que era sem querer. e eu te perdoava. e eu perdoaria tanta coisa apenas para poder sonhar que a nossa história um dia podia ser um bestseller desses por aí.

nem a sua recusa, nem os seus defeitos mais escabrosos me assustaram. você foi um sopro de ar fresco na minha vida e eu me embriaguei com a sua rebeldia e grosseria. um homem difícil de lidar. firme como um rochedo por fora, mas eu também via outras coisas. eu me encantei pelo que havia para além das pedras. eu vi cachoeiras e rios, o canto de um passarinho rouco e ferido que desejava alguma coisa, eu vi tudo em uma fração de batida cardíaca, e em mais outra, e em mais outra. senti jorrar o fluxo sanguíneo, dei às mãos às suas seguranças e as acolhi como se elas fossem velhas amigas. eu me sentia tão próximo de você como se nunca houvesse me sentido ligado a alguém antes.

você me mostrou todos os seus lados e eu aprendi a gozar com todos eles. eu te entendi e não me importei com as suas faltas, porque no amor sempre há alguma. eu achava que ia ser a minha obra-prima, mas a gente era só um rascunho. e o traçado do nosso rascunho vinha sumindo conforme você se mostrava cada vez mais distante... inalcançável. inacessível.

eu nunca pude nem sequer dormir ao seu lado.

eu sou um velho embriagado que não consegue nem sequer terminar seus rascunhos. eu fracassei. eu fracassei. eu bebo, me engano, choro, e grito com o mundo que você não tinha o direito de fazer isso. você não tinha o direito de nos deixar nosso rascunho por escrever.

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