rasga aquele poema que escrevi pra você

rasga aquele poema que te dei. eu nem me lembrava de que tinha feito tamanha besteira, de escrever pra você. escrever pra você pensando em você. me declarar pra você. um poema e uma caixinha de alfajor. foi sincero, é claro que foi. nas linhas daquele gesto eu conseguia enxergar todo o amor que existia em mim. todo o amor que eu queria dar pra você. e eu não tinha nenhuma intenção de me fazer ilegível, queria que você me tocasse com o mesmo interesse que toca um livro favorito.

em vez disso, você manifestou certa indignação e surpresa por estar recebendo outro presente. "de novo?", você me perguntou. é verdade, eu tinha te dado outra caixinha de chocolate um mês antes. mas a pior parte foi quando você pegou o poema. você leu aquele poema em que eu escrevia sobre tudo que sentia e falou "bem intenso, né?". e algo em mim se partiu. mas tudo bem, porque ao menos você sabia que eu te amava e eu estava sendo sincero comigo mesmo e com você.

mas nós não existimos mais.
nós acabamos.

e dois meses depois, você veio me agradecer pelo poema. me disse que o poema era muito lindo e que ia guardar pra sempre com muito amor. você veio me dizer isso depois que acabamos. eu queria entender o que é que se passa nessa sua cabeça, onde tudo parece meticulosamente premeditado. você veio me dizer isso quando já não importava mais. eu já não importava mais se você tinha gostado. eu não precisava saber disso. eu não queria saber mais. mas você veio me lembrar do maldito poema. faz um favor? rasga esse poema. rasga e não toca nunca mais no assunto. ou então me devolve, me devolve que eu mesmo me encarrego de rasgá-lo.

eu disse pra você que me arrependia. você me perguntou o motivo. e eu respondi "porque eu claramente me excedi".

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