você me prometeu que nunca me machucaria

nem sempre as promessas que fazemos se cumprem. eu sabia disso quando fizemos os votos para continuar juntos, quando me permiti ser tranquilizado por aquelas palavras que escorriam delicadamente da sua boca e me prometiam a estabilidade. eu não quero um amor que não sei se vai estar ao meu lado na cama no dia seguinte, eu lhe disse. eu quero mais do que isso. eu queria acordar e vê-lo escovando os dentes com a porta do banheiro aberta, me dando um sorriso bobo encoberto de creme dental. eu queria acordar e saber que ele ainda estaria ali, o mesmo homem que eu amava. aquele que eu conheci numa festa à fantasia, com quem dancei num festival e que na noite seguinte me fez gozar, e depois em outra noite, e em mais outra.

e esse é o paradoxo da confiança, não é? nós suspeitamos das coisas ruins que podem nos acontecer e que tudo que construímos pode ser frágil, às vezes até sentimos que é inevitável que o mundo se despedace. talvez eu já soubesse que ele estava prestes a quebrar a promessa. e ao mesmo tempo, confiar é oferecer as condições para o outro (não) fazer isso. sem a confiança, eu teria agido como uma criança atentada a desmantelar impulsivamente o próprio castelo de areia, que foi construído com tanto jeito e orquestrado com tanta dedicação.

mas esse é o paradoxo dos castelos de areia, não é? às vezes eles são construídos próximos demais das ondas. tenho a teoria de que às vezes construímos castelos de areia pensando que usamos tijolos. então essas construções históricas, tradicionalmente levantadas para durar mil anos e proteger aqueles que vivem em seu interior, são desmanchadas para sempre em um golpe repentino das ondas que retornam ao mar, exatamente como acontece com os castelos de areia. e as ondas não deixam nada além de um rastro de destruição, um punhado de terra amontoada, o que restou.

você me prometeu que nunca me machucaria. mas esse é o paradoxo das promessas: nem sempre elas se cumprem.

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