um apelo para que a morte não demore

quando eu morrer
não quero que chorem por mim
ou que fiquem tristes
com a minha ausência

eu não quero ser
perturbado
com nenhuma lágrima

quando a morte vier
me buscar
não quero ser
incomodado

e não quero a hipocrisia de quem
só me fez sentir
como se eu nunca pudesse
ser amado

quando ela, enfim,
tiver me encontrado
estarei aliviado
de não viver mais anos
me sentindo
feio, inútil, dispensável

eu não era digno
de uma conversa transparente
eu não era digno
de um pedido de desculpas
somente?
eu não era digno
eu não era amável

meus sentimentos
minha dignidade
são rastros de sangue
na minha história
são uma tatuagem
na minha memória
só a morte pode me aliviar
de tudo que me
destrói

passam-se os dias
passam-se os meses
e não consigo compreender
por que você queria
que eu ficasse
quando você nem queria
me amar
nem estava disposto
a se entregar
e queria que eu ficasse
com você
por que diabo de razão?

suas palavras nômades, austeras
duras, implacáveis
instalaram-se em mim
encontraram onde morar

passam-se os dias
passam-se os meses
e não consigo compreender
por que vocês abusaram de mim
quando eu não sabia
me defender

por que vocês se desfazem de mim
se sou tão especial assim
eu não entendo o que foi
que eu fiz
pra ser uma decepção
tão grande assim
pra vocês

escrevo este poema
pra que ninguém jamais
se esqueça

quando eu já tiver partido
a minha narrativa
de nenhum modo será

silenciada

e minha história não será
alterada
por aqueles que me fizeram
chorar

quando a morte
me buscar
estarei aliviado
só me resta aguardar
só me resta esperar

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