o silêncio tem sido o meu lar

tenho estado bem mais quieto desde a última vez que você me deixou. o silêncio tem sido um lar, um conforto, tenho morado nele durante esse período de recuperação. já não me satisfaz falar. já não me alivia dizer como você me machucou, gritar isso aos quatro ventos, contar pra todos os meus amigos enquanto eles me dizem o quanto você errou comigo, você e todos os outros. a maioria deles nem sabe mais que estou sofrendo. porque eu parei de falar. é a fase do luto em que você sabe que, para as pessoas, tudo já deveria estar voltando ao normal e já não tem cabimento mais ficar sofrendo. e eu entro nesse jogo. porque é o esperado. e porque eu assim escolhi.
dizer em voz alta produz relevo e materialidade ao que queremos que seja, esteja, continue, se torne morto.
estou mais quieto desde a última vez em que você me deixou. quando você tentou discutir comigo e virar o jogo a seu favor. quando você se esquivou do fato de ter ignorado meu aniversário. quando arrumou as desculpas mais frágeis e mais sintomáticas de uma tentativa de justificar o injustificável. quando disse que a culpa era minha se eu ficava triste com suas abordagens inconsequentes, que eu não podia controlar as pessoas e teria que aprender a lidar. quando revelou que o problema sempre foi eu. que você até queria um relacionamento sério. mas não comigo. você mentiu pra mim. você me faltou com a sinceridade e não assumiu sua desonestidade, você me colocou em um lugar de radicalidade e inexperiência em contraponto a você, tão calejado, e dessa forma invalidou a minha narrativa, a minha história e o meu lugar de fala. você mentiu pra mim. você me diminuiu tanto que não havia nada para se quebrar quando seus pés pisavam no meu corpo.
a recuperação tem sido difícil e dolorosa. porque não suporto pensar em você, e às vezes inevitavelmente acontece. e sempre que isso acontece, tenho vontade de fugir da minha cabeça, de trocar de corpo, de perguntar a Deus o motivo, sinto vontade de me machucar e me anular assim como você fez comigo. tenho tido que ser muito forte e muito compreensivo comigo mesmo.
eu nem esperava que esse texto crescesse tanto. achei que fosse ficar menor. mas fazia tanto tempo que eu nem escrevia que quando comecei a falar saiu tudo assim, num fluxo. um fluxo de remorsos, tristeza e indignação pela maneira que tudo aconteceu. e como eu tentei evitar que tudo acontecesse dessa forma. eu me esforcei muito. mas você nunca enxergou isso.
tenho estado bem mais quieto, bem mais triste, bem mais desesperançoso, bem mais frágil, bem mais tímido. já se foram dois meses. levei dois meses pra me livrar de você. e lá se vão dois tentando superar você. e contando. não sei até quando. mas espero me ver livre de você logo. meu coração não aguenta mais. meu coração não te aguenta mais.
eu rejeito você. rejeito tudo o que você significa. mas você ainda mora em mim. então me rejeito.

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