Punhal das palavras

Eu tenho esse problema de me ater muito às palavras. Não esqueço tão facilmente atitudes, mas menos ainda palavras. As palavras são muito importantes pra mim, e como não poderia deixar de ser, não são tão importantes assim para outros. Já me relacionei com quem às palavras não desse importância nenhuma, mas pior que isso, já me relacionei com quem às palavras desse extrema importância, a ponto de manipulá-las meticulosamente para conseguir o que quer. Os fins, não os meios. Diz-se desses indivíduos que eles não têm palavra. Aviso de antemão: é mentira. Não têm palavra coisa nenhuma, estão cheios delas, têm palavras demais, por isso delas usam e abusam. 

As palavras, quando saem da boca deles, me enganam, me machucam, me marcam como uma tatuagem que não sai com laser ou pinça ou troca de pele, não sai.

Ele se despediu de mim em um domingo à noite, me acolheu em seus braços, beijou meu pescoço e me desejou não uma boa semana, mas uma ótima semana. Ele ficou ali, abraçado a mim, me desejando uns pares de coisas bonitas que eu nunca sonhei em me desejar. Fiquei deslumbrado com a ternura dele, tão deslumbrado que, em dado momento, deixei de ouvir o que ele dizia. Ouvir a voz dele me bastava simplesmente. Cá dentro, uma parte pequenina de mim achou a despedida quase dramática, mas era muito pequenina. Pequenina, mas justificada. O que pra mim era uma despedida até o dia seguinte era, na verdade, uma despedida mesmo. É a última vez que estamos nos vendo assim, desnudos. Agora você volta para o território do desconhecido. Agora você é ninguém, de novo, como já foi antes, tá entendendo? E faz o favor de nem me mandar mensagem, mas boa semana.

O abraço dele não era só um manto que me aquecia, era o seu momento de glória, de me atingir com o punhal de palavras e depois, não sei. E depois?

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