Nós não entendemos nada

Não te esqueças jamais do que digo: as pessoas que amam são perigosas, são as bruxas do nosso século. O lado bom é que não é preciso fazer mais nada com elas ou não vês que elas já andam sangrando nas ruas? É breve, é breve o tempo em que até elas terão medo de amar, porque vamos puni-las até que, enfim, todos teremos medo de amar, todos teremos desaprendido a amar, eu e tu também. Quem resistir, vai pagar. Quem tentar, vai morrer. Aqui é o purgatório ou não ouviste dizer? Não me venhas com teus sentimentalismos baratos ou não sobrevives, isto aqui não é tela de cinema, isto aqui é campo de batalha, é a vida real que já te cansaram de alertar, tu lutas, tu lutas ou tu morres, escolhe tua luta, tua ideia, anda.

Nós não entendemos. Nós não entendemos nada. Não, não há qualquer tópico que nós saibamos algo sobre. Estamos envelhecendo antes da hora, estamos envelhecendo sem amor. Sempre foi assim. Sempre vai ser. Será? [...] Cresci ouvindo que o amor era a resposta. Sigo crescendo, mas compreendo que ouvi isso de alguém que também não entendia nada. Não há ninguém que entenda e não há ninguém que não se assuste se o amor bate na porta. Nós não atendemos a porta, nós não entendemos nada. A vida vai seguir o curso enquanto damos as costas para as portas, nós mentimos, mentimos desesperadamente, nós bebemos demais, fumamos demais, trabalhamos demais e mentimos porque não entendemos nada.

Já mentiram para mim uma porção de vezes. Uns me mentiram sem me dizer qualquer coisa, outros não tiveram medo e eu também não tive. Eu sou mendiga, não tenho porta nem tenho mesa onde me sentar para comer. Não há nada mais que eu tema porque não há mais nada que eu tenha a perder. Eu não faço uma verdadeira refeição há anos e estou morta de cansaço. Alguns me abrem a porta tão temerosos já se perguntando quanto falta para eu ir embora. Alguns me servem o jantar de quem está no segundo andar e não desceu para comer. Alguns me ofereceram migalhas de sentimento, outros não me ofereceram nada. Mas eu tenho essa estranha sensibilidade, sei muito bem reconhecer quando sou persona non grata. Eu tenho esse estranho hábito: eu me levanto da mesa quando o amor não está mais sendo servido. Eu fiz isso várias vezes e vou continuar fazendo. Até o mundo acabar.

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