Especulação acerca das coisas



Imagino que uma pobre criatura imersa na atmosfera de um elétron tenha uma experiência semelhante, em teoria, com a minha, imerso na atmosfera do planetinha azul a que deram o nome Terra. Talvez planetinha nem seja a melhor palavra para definir onde estou; talvez Deus, que é muito maior que eu, pense que vivo em um elétron e por isso não me escute. Eu aqui tenho a ilusão de que giro em torno de uma estrela e de que o universo é grande. Mas vai ver o universo é só um átomo e eu uma partícula ainda não descoberta pelos cientistas, que mora num elétron e gira em torno de um núcleo e de si mesmo. Vai ver o Sol não passa desse núcleo atômico constituído por prótons, nêutrons e neuras. Vai ver eu sou a pobre criatura.

E talvez Deus, que é muito maior do que eu, pense que também está girando em torno de uma estrela e que vive em um planetinha, quando a realidade, ah, a realidade, meu querido, é uma mulher que não se mostra, impenetrável, não se entrega. Elétron dentro de elétron, órbitas celestes e atômicas, gravidade e forças de atração e repulsão: em algum lugar, tudo se confunde, eu já nem existo. 

É, vai ver o universo, se é que podemos chamá-lo assim, não termina em gente. É que ele pode muito bem ser uma célula, e eu só mais uma de suas míseras funções. Quase um câncer, desvirtuado como sou, faço nada direito. E quem faz?

E porque sou mísero, mesquinho e transitório, tenho fome de alma: essência que existe, não existe, desiste  desperdiço uma vida toda atrás do diferente.

Depreende-se da experiência que não se pode tocar a alma de quem quer que seja sem esperar uma reação; ela pode vir efervescente ou explosiva como um cometa, outras vezes uma curta vibração ou um beliscão como a eletricidade. Conhecer algumas almas é como eletricidade, experimentar as diferenças de gravidade é o que move meu mundo.

Move o meu mundo se você diz o que sente. Agora, a importância disso pro mundo? Se pra tudo isso eu pergunto, não vivo, se é que vivo o presente. O presente já passou. Eu vivo o de repente.

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