nunca mais (ou não há fogo no céu)
que ingenuidade a minha.
eu pensava que, quando tudo acabasse, haveria sinais no céu. você já teve essa ilusão? eu esperava por sinais de fogo e de ruptura. sinais do fim dos tempos. sinais de quebra do encantamento.
que ingenuidade a minha.
eu pensava que receberia um aviso, um recibo, uma mensagem, uma palavra. pensei também que seria um dia memorável, que não me deixasse outra alternativa a não ser lembrá-lo. um grande desfecho, com aplausos e lágrimas ao fim do concerto. eu esperava que alguém fechasse as cortinas e apagasse as luzes e, então, não restasse mais nada. nada além do silêncio do que um dia já foi, mas hoje não é mais. nada além do vazio, vazio que me contempla, mas não se mostra.
pois é, mas não há apagar das luzes e não há ninguém para fechar as cortinas. os pássaros continuam cantando. o céu continua limpo, com exceção de algumas nuvens. o mundo continua girando e este dia parece um dia como qualquer outro. exceto que não é. mas é.
há portas e vidas que não vou mais tocar. este não é mais o meu lugar. eu não tenho lugar. mas os astros não ligam. tudo continua sempre igual.
que ingenuidade a minha. eu pensava que haveria fogo no firmamento. em vez disso, não há pólvora, faísca nem fumaça. e mesmo assim há algo queimando. eu sei que há. algo em mim que sabe, que sabe que se desfaz. sabe mas finge que não sabe: nunca mais.
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