não sei viver com esse buraco no meu peito

queria escrever sobre o que estou sentindo, mas não sei bem como começar, e também não sei como continuar. não sei bem pra onde levar minhas palavras, elas me parecem tão estranhas, quase como se não fossem minhas. acho que preciso me reacostumar a dizê-las. essas palavras, elas precisam dar um jeito de sair. se ficarem aqui presas, quanto mais tempo passarem no meu estômago, elas vão me sufocar, elas vão nos sufocar.

eu queria saber o que fazer.

eu queria saber expressar o que eu sinto sem me sentir frágil. mas não sei não me sentir frágil sem machucar você. então não sei bem o que fazer. há muito tempo estou cansado de me sentir o elo frágil da relação. sou sempre a pessoa que gosta mais. que ama mais. que se esforça mais. que pensa mais. que sente mais. e eu não consigo me desfazer da sensação de que talvez eu não mereça a igualdade, talvez eu não mereça todo o amor que eu dou.

não sei me desfazer da sensação de que não nasci pra isso. que cedo ou tarde esta ilusão vai acabar. que mais dia ou menos dia vamos abaixo e depois será como se você nunca tivesse gostado de mim. não consigo me desfazer da sensação de que estou me enganando, me enganando ao pensar que estamos indo pra algum lugar. me enganando ao pensar que temos algo a ver. me enganando ao pensar que você poderia me fazer feliz. mas eu já não sei mais quem poderia me fazer feliz. quem poderia tranquilizar meu coração. não sei, não sei.

não sei viver com esse buraco no meu peito. e detesto a ideia de estar com alguém que caracteriza meu amor como excesso.

meu amor não é um excesso

como me fazem pensar

mas meu amor é sincero

sobre o que lhe faz chorar

meu amor não é um excesso

como me fazem pensar

mas me fazem pensar

se tenho direito a amar

meu amor não é um excesso

como me fazem pensar

mas me fazem pensar

se tenho direito ao amor

como tenho direito à dor,

ou se esta é uma vida

onde só a dor é direito

só a dor é direito

amar é estreito

não se pode amar

a não ser que seja baixinho

amar bem pouquinho

pra não incomodar

os ouvidos frágeis

amar só um pedacinho

e ser amado só um tiquinho

e viver a vida

no diminutivo