o dia seguinte

(mais conhecido 
como ontem)

eu sabia que isso ia acontecer, algo dentro de mim pressente quando a morte está próxima, quando algo que passou do ponto ainda está vivendo mas já meio que entrando em decomposição, eu sabia e não sabia, mas eu sabia que terminaríamos, mas mesmo assim você me surpreendeu porque não achei que tão cedo um de nós fosse dar o golpe final e depois checar o pulso, mas você tomou a tarefa pra si naquela noite, todas elas, e eu não pude evitar em beber enquanto você falava, você falava e eu bebia cada vez mais e às vezes algumas frases eram mais duras de ouvir do que outras e então eu bebia imediatamente, sem disfarçar o quanto tinha doído ouvir você me dizendo, nos torcendo e pondo um fim na nossa história.

e aí você me perguntou
o que eu gostaria de fazer
e eu respondi
por mim eu luto
por mim eu sigo com a gente
sei que não tomo essa decisão sozinho
mas acho que essa é
uma característica minha
quero seguir até onde der
e lutar
porque se no fim
não der certo
pelo menos 
nós demos tudo
e lutamos
e acho que não tem
nada mais bonito
que isso

e você me dirigiu um olhar de incomplacência e foi quando eu soube que você ia terminar, dizendo que não queria me machucar, mas como se quisesse me lembrar que não estamos em um filme de Hollywood e na vida real as pessoas se machucam pra além do recuperável, você não implorou pra que eu entendesse, você nos sentenciou e eu concordei porque que outra atitude eu poderia ter se o mundo me grita que fracassamos e se olhamos nossos olhos e constatamos o óbvio: que não haveria uma próxima vez.

Comentários

Postagens mais visitadas