Revisitando sua memória

hoje eu te vi depois de tanto tempo. na verdade não faz tanto tempo, mas agimos como se assim tivesse sido, como se já tivesse passado tanto tempo desde a última vez que seria impossível a nós reconhecer um ao outro ou iniciar qualquer espécie de diálogo sem um incômodo estranhamento. você passou por mim como se eu fosse um estranho e eu gostaria que isso fosse tudo. você foi mais do que um estranho pra mim. mas eu nunca fui mais do que um estranho pra você.

um estranho

a quem você nunca se abriu

e por quem nunca sentiu

empatia alguma

me pergunto

como não pressenti

um desastre

com a aproximação dos seus passos

você teve que chegar tão perto

pra eu saber que você me destruiria

você não precisava ter chegado tão perto

está escrito

em cada detalhe do seu corpo

você ia me machucar e depois me machucaria mais

porque teria tédio

me machucaria

como um terremoto

põe abaixo um prédio

você ia me machucar sem remorsos e até acharia divertido. que sorte que fugi de você, me senti tão péssimo fazendo isso, fugindo como um filhote abandonado, pior, fugindo do amor. mas hoje eu tenho raiva suficiente pra saber que não foi culpa minha, pra saber que o sangue que eu ia derramar não ia ser poético, não ia ser nada além de trágico. você nunca derramaria sangue algum. como um vampiro, você se apropriaria até a última gota da minha energia e o tempo ia me fazer mais triste e infeliz a cada dia. e quando eu tentasse te deixar, você ia agir como se fosse culpa minha. como se eu fosse louco, insano e sentimental e você fosse o único com palavra e racional. você não levaria a sério o que digo.

mas leve a sério agora

às vezes a maior demonstração de maturidade

é saber

que certas coisas

não são pra gente

a maior demonstração

de amor próprio

é se afastar

do que nos faz tão mal

mesmo que queiramos

a vida toda ao lado dele

é, ele não se importa e me fez tão mal, mas eu estou aqui, eu estou vivo e estou respirando. não importa o que ele faça, o que diga, o que deixe de fazer, isso é algo que ele não pode tirar de mim.