Caríssimo 2016

Para escrever este texto, dei uma olhada nos textos Caríssimo 2014 e Caríssimo 2015, postados ao início desses anos. Percebi que não havia feito um Caríssimo 2016. Então, por que não agora? Acho que prefiro assim, escrever sobre o que já conheço e já aconteceu. Não ousarei novamente escrever sobre o que ainda não aconteceu. Eu não tenho ideia. Ninguém tem.

Achei curioso que em um desses textos eu defini 2013 como o ano da Paz Armada (paz onde, gente?) e 2014 como o ano da I Guerra. Concordo que 2014 foi realmente uma provação, mas acho que fui demasiado gentil ao associar o termo "paz" a 2013, por mais que na verdade se refira a uma falsa paz. 

Porque foi em 2013 que eu quebrei. O capitalismo tem esses ciclos de ascensão e queda, alta do dólar, elevado índice de desemprego, caos político, de repente um impeachment, escândalos de corrupção e autossabotagem. 2013 foi o ano da quebra da bolsa. 2014 foi a tragédia. 2015 pode-se falar em paz, mas a reconstrução ia a passos muito lentos, muito timidamente. 2016 me trouxe ascensão e queda. Alegria e desespero.

2016 foi o ano em que saí de casa, fui fazer faculdade, me assumi pros meus pais, beijei pela primeira vez, fui assediado pela primeira vez, coloquei um piercing, conheci gente nova, me mudei, desdobrei, comecei a dar aula, ri com meus alunos, entrei em conflito com coordenação, entrei em conflito com colegas de profissão, entrei em conflito com amigos, me apoiei em outros, me apaixonei, pirei com o peso do amor, das redações e dos trabalhos, distribuí sermões, distribuí a paz quando possível, gargalhei tanto até chorar, mas também chorei de desespero após uma briga, após uma frustração. Foi um ano que me proporcionou experiências completamente novas nas quais mergulhei de cabeça. Às vezes o mar era fundo, outras era raso.

Mas é com relação ao amor que 2016 me deixa seu principal legado. Não só o amor pelo outro como também o amor próprio e outras formas de amor. Porque em 2016 eu estive carregando um peso maior do que eu, na verdade todo esse tempo eu estive. Estive carregando esse peso pelos últimos três anos. Sei que não posso simplesmente apagar o passado. E depois desse ano, não sei se acredito mais em coincidências, pois conheci pessoas que foram fundamentais para que eu percebesse tudo com outros olhos. De uma forma muito simples, que provavelmente nem desconfia, uma delas mudou a minha concepção de amor. Me sacudiu, mas não foi sua intenção: ele queria ser gentil. Foi quando percebi que nunca conhecera o amor até então, mesmo que ele pense em mim como um mero desconhecido, ele transborda amor.

Aí eu percebi que o amor me chocava. Que estava acostumado a ser desiludido, mal tratado, a ter que brigar, me impor e me defender, onde quer que fosse. Eu percebi que tudo que eu entendia como amor na verdade não era. E foi louco.

Para 2017, eu não quero que o amor me choque mais, quero que seja a regra. Quero me livrar de pensamentos tóxicos causados por aquela primeira decepção amorosa. Não quero sentir mais culpa ou medo, quero viver sem medo de doer. Quero tratar meus problemas exatamente como eles são, sem aumentá-los ou diminuí-los. Quero acreditar no meu potencial, que tantos me dizem e eu nunca vejo o que eles veem. Preciso olhar pra mim e dizer que eu posso e consigo, e não mais sentir pena. Porque eu não quero mais que o amor seja o reflexo das minhas frustrações. Quero me bastar. E o amor, se vier, será um acréscimo, como uma sobremesa. Acho que preciso disso pra 2017, pra realmente me curar do que houve nos últimos anos. E a você, que está lendo agora, muito obrigado pela companhia e feliz ano novo.

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