Razão Cínica


Era uma vez um homem.
Filho das estrelas, inocente e magro.
Produzia feitiços mas não era mago.
O mago, que na verdade não era mago,
não tinha certeza alguma a não ser uma:
Tratava-se de alguém incompleto ou vago,
dos dois um ou os dois.

Que certeza tinha ele?
Mal sabia ele se havia essência dentro dele
ou se era tudo invenção dos antigos.
Os modernos. Obcecados pela ideia do significado,
Defina-se, homem! O que é você? Medeiros, Furtado?
Meu caro, a vida é o teatro, a Terra o palco, as estrelas
a plateia. 

Falo da menos criativa invenção do homem.
Quem inventou a prisão só podia estar de deboche.
A gravidade torna qualquer fuga planejada improvável,
sair deste corpo antes do fim seria nada menos que louvável.
Fim do quê? Sei lá eu. Por fim, querem nos cercear com palavras, 
mas palavras não podem limitar.
Porque palavras libertam.

O sistema carcerário é piada pronta.
Não é preciso estar dentro dele para estar preso.
Esqueçam! Esta flor de revolução parece inocente,
mas me é um peso. 
Conto até cinco sem raiva alguma aparente.
Cinco? Desde quando o cinco é cinco e não seis
e dois é dois e não quatro, e os reis são reis?

Não importa aonde eu vá,
existe essa lógica que persegue a mim, ao mago,
à mulher que volta tarde do serviço e a seu marido,
respeitável advogado e prostituta da lei.
Muito bem, não se amam, são casados.
Mas existe o amor, este sentimento rebelado
que revela cada centímetro do que não deveria ser revelado.

O sangue entupido na aorta.
O coração batendo no pomo de adão.
Adeus à lógica! O amor bate na porta, você não deixa entrar.
Diz que é a Santa Inquisição e contra a reforma. O amor debocha, eu debocho.
O mago debocha, você negocia. Só deixa entrar dentro da norma.
Amor? só se for verso decassílabo.
Ah! o amor esmurrou a porta.

Com certeza é um choque para o ser tão racional.
O homem. Perceber que, em muitos aspectos,
age exatamente como um animal.
Difícil dizer o que torna tão especial o homem.

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