Com (muita) licença poética


Quando nasci, um anjo virtuoso
desses que enchem o saco
gritou: Levem-no, que é filho do diabo!

Filho do diabo, eu?
Não, meu velho,
Eu sou só Matheus,
se sua vida foi repleta de lamúrias
pois não despeje sobre mim a sua fúria!

Sei que foi Matheus
o primeiro escritor a escrever sobre amor,
mas permita-me ser só mais um
a escrever sobre dor.

Queriam-me viril
como os machos da minha idade,
aqueles machos de paisagem,
queriam-me cristão,
nasci tão agnóstico quanto uma moeda.

Colher sobre colher de expectativa vem a queda,
me olhavam como se fosse especial,
alguém me perguntou se queria?
mas foi nessa ânsia de ser quem queria
que me tornei especial.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Eduardo
talvez não fosse este fardo.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu cuidado.

Essa mania de rotular,
meu velho,
ainda muito vai me fazer chorar,
se guardo em mim
todos os anseios do século.

**novamente, homenagem a Drummond, "poema das sete faces"

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