Andarilhos
Talvez
nada aconteça por uma razão.
Talvez
tudo pereça porque este é o destino, e ele é único.
Talvez
os outros destinos sejam confortos efêmeros, mentiras a nós mesmos, achismos. O
ser humano se julga importante o suficiente para ter um plano traçado sobre a
própria vida feito uma auréola pairando sobre a própria cabeça.
Talvez
nada disso exista.
Talvez
nós sejamos nada além da parcela ínfima da grande variedade de asteroides,
sistemas e galáxias que ocupam o universo.
Talvez
estejamos condenados a ser sozinhos até a morte — nascemos assim e morreremos
assim.
Talvez
a consciência transcenda os limites da Perestroika e da Glasnost, mas talvez
não.
Talvez
nunca chegue o Messias.
Talvez
estejamos errados e desesperados por dar sentido a tudo que não tem sentido.
Talvez
não exista a Paixão como etapa anterior ao Amor, talvez não exista Socialismo
como etapa anterior ao Comunismo.
Talvez
não exista Amor, talvez não exista Comunismo.
Talvez
não exista Capitalismo.
Talvez
não haja globalização e o consumismo seja a distração da imundície, da
injustiça e mesquinhez que nos habita.
Talvez
não haja paraíso.
Talvez
sejamos lagartas dentro do casulo, condenadas ao medo de virar borboleta. A
lagarta que, receando bater as asas, prefere ser lagarta para não lidar com
outras responsabilidades.
Responsabilidades,
talvez, demais para a consciência humana.
Talvez
sejamos lagartas negando a evolução.
Talvez
não haja evolução.
Talvez
sejamos almas perdidas vagando pelo mundo.
Talvez
nem tenhamos alma.
Talvez
sejamos andarilhos.
Talvez
quando mortos, estejamos mortos para sempre.
Talvez
a gente morra muito antes da morte física, quando só há em nossos olhos vazio e
abandono.
Ou
não.
Talvez a vida transcenda o alcance limitado da consciência humana.
Talvez
eu ainda acredite no Amor.
E
você, acredita?
artwork by guru
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