terra morta
tenho tomado banho três vezes por dia. em alguns dias, só pra garantir, eu também tomo um quarto, porque simplesmente não sinto que seja o suficiente. não é o suficiente. o que está errado em mim? quem ou o que estou tentando expulsar?
eu quero expelir você de mim. quero apagar os rastros que você deixou na minha pele. quero desgarrar os restos errantes de você que colaram no meu corpo e me (re)compuseram outra pessoa. esfrego violentamente porque não suporto viver debaixo de uma pele que um dia você tenha tocado. quero deformá-la até que ela não se pareça com nada que você tenha um dia beijado. quero uma transfusão de sangue, um aniquilamento da história, uma ruptura agressiva na memória. pra que então você não conheça mais este corpo, esta pele, esta terra morta, eu sou uma terra morta, meu bem, que precisa da morte para viver de novo, viver mais uma vez, ainda vivo mas preciso da morte que enseja o desejo pela vida.
então te garanto que você não reconhecerá estes olhos que um dia se encheram de afeto ao encontrar os seus. sobretudo, você nunca mais me dirá o que fazer e como devo fazer. nunca mais.
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