Outra noite sem você

Hoje eu voltei de ônibus e a minha mochila ocupou o espaço em que eu gostaria que você estivesse quando o motorista deu a partida e saiu. A mochila descansou com muito pesar e tristeza na poltrona ao lado, macia e vazia. Faltava-lhe algo. Tenho grande facilidade para identificar ausências, são velhas conhecidas minhas, sei de cada hábito dessas senhoras. 

Sei que é você quem faltou a essa poltrona hoje. Eu estava sem você, tive que aprender a estar sem você, depois de tanta intimidade que compartilhamos, depois de tantos segredos e cochichos na calada da noite, alguns metros separam a minha casa da sua mas a sensação que tenho é que somos separados por uma ilha. Não importa o quão próximo fisicamente eu esteja de você, nunca estarei perto de novo. Eu nunca vou poder atravessar o mar. A metáfora é real: eu não sei nadar. Nunca aprendi.

Eu vejo de longe a sua luta, não sei de onde tira tanta força. Você é mais forte do que eu, eu deveria saber como isso terminaria: comigo em um ônibus pensando em como tudo terminou, pensando em como eu talvez nunca volte a acarinhar seus cabelos de novo ou em como talvez nunca volte a me aninhar no seu corpo. No ônibus eu sei que é seguro: eu finalmente desisto da minha farsa. Assumo a minha derrota e a minha fraqueza, desculpa a franqueza, estou sozinho, eu sinto muito, eu sinto a sua falta.

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