anatomia da nostalgia

tive alguns namorinhos de internet durante a minha adolescência. uns três, quatro. não duraram mais que um mês, via de regra. e tenho memórias incríveis da maioria deles. todos pela internet, não nos víamos com frequência, tínhamos as coisas da escola pra fazer e mal sabíamos o que exatamente era isso, como que funcionava, essa história de amar. era tudo tão ingênuo e era tudo tão mais fácil, tão mais leve e tão mais doce.

eu era ingênuo e o mundo não pesava tanto nos meus ombros. a gente podia ter esse namorinho de brincadeira, a gente tinha afeto e a gente não se machucava, porque éramos só crianças. é muito diferente de hoje em dia, em que tudo dói. tudo é pesaroso, tudo se arrasta, tudo significa tanto, tudo é tão profundo, tudo está sempre em mudança e tudo está sempre partindo.

eu me apavoro com tudo isso, me apavoro porque o mundo não para nem por um segundo, a gente vai envelhecendo, o corpo vai nos enganando e nos sabotando, e enquanto isso a gente sofre, a gente sofre porque tudo dói e tudo é pesaroso e porque a gente sabe que estamos sozinhos. todos vão partir. todos vão morrer. estão todos nos deixando. inclusive aqueles que queremos puxar para mais perto e dormir ao lado em uma cama. quanto mais o tempo passa, mais angustiante é a dor da perda, a solidão.

sinto falta dessa ingenuidade e dessa leveza, dessa descomplicação que não volta mais.

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