Mania de português

Este português teu é tão simples, meu bem. E o coração, é simples também? Admiro-te porque se desfaz de todos os agudos, vírgulas, regras, tantas regras. Não ande na ciclovia, não desobedeça, não separe com vírgula sujeito e predicado, e você aí, rebelde. É bobo, eu sei. Mas é que eu, eu vivo mais pelas regras do que por mim, culpa do eufemismo que corroeu a minha alma. Ninguém mente, só falta com a verdade — e cada um tem seus motivos. Aceito tudo.

Este português teu é tão singelo, meu bem. E o coração, é singelo também? O que deve pensar de mim, dessa megalomania de ponto em fim de frase? Deve rir dessa paranoia de virar do lado certo, a crase. Eu sou complexo, circunflexo, às vezes me calo. Não há palavras. Enfeitá-las e rebuscá-las feito uma árvore de Natal faz delas o espelho da minha alma. Difícil. Sou fiel ao português porque ele é fiel a mim. Somos assim, difíceis.

Você, com essa simplicidade, é de uma leveza que, puxa, é de admirar.

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